“Quem
te roubou o inocente jardim
te roubou o inocente jardim
tuas faces de rubras maçãs
teu condão, talismã
quem levou nossas verdes manhãs de sol
tardes sem fim
inventou a distância cruel
levou a linha, a vareta e o papel
lavou o céu, secou o mar
jogou nuvens de areia nos olhos
muralha de pedras
brilhantes que furtam a visão?
Como um deus ateu
vaguei vagabundo
morei num barril
andei condenado a viver buscando...”
muralha de pedras
brilhantes que furtam a visão?
Como um deus ateu
vaguei vagabundo
morei num barril
andei condenado a viver buscando...”
Guilherme Arantes
Sou um caipira matuto que não entende o desenvolvimento
Sentado à margem, numa ilha, cercado por canaviais
Mato o tempo pescando nada no esgoto da usina
E na periferia do meu mundo
Encurralado entre o barranco e o loteamento
Fico cismado a matutar meu destino
Vejo ao longe os pinheiros e eucaliptos
Que tomaram o lugar do mato cerrado
Ouço o barulho da cidade ao invés do canto dos pássaros
Sinto o cheiro da fumaça no lugar da brisa perfumada da mata
Penso em quanto milho, mandioca, arroz e feijão
Daria plantados nessa terra roxa no lugar de tanta cana
E que não tem caça que viva em canavial
Concluo então, que se me desenvolver soubesse
Pescaria cadáveres, caçaria moscas, cataria larvas
Beberia álcool, só comeria açúcar refinado
Respiraria fumaça, mataria minha sede com veneno
E me refrescaria neste leito fétido
Mas nada sei de desenvolvimento
E com gosto amargo na boca da noite
Volto para casa pensando na vida
Canavial no lugar do milho, mandioca, arroz e feijão
Descampados onde deveria estar a riqueza da mata
Caminhões e carros no lugar de burros e cavalos
Poeira no lugar da terra fresca e do capim úmido de orvalho
Barulho de máquinas ao invés do canto dos pássaros
E perdido na cidade
Numa enorme solidão no meio de tanta gente
Sinto que há pessoas demais e alegrias de menos
Muita ganância e pouca amizade
Prédios demais escondendo o horizonte
No centro desse labirinto de muros e avenidas
As placas e os sinais só me confundem
Ao sentido que me conduzem digo não
E procuro a direção que me leve de volta ao início
Dafran Macário
Rio Claro, SP
1992
Rio Claro, SP
1992
Eu lembro!
ResponderExcluirP.
Que bom!
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