terça-feira, 21 de outubro de 2014

Cantareira


cantar eira
canta rei Ra
cantarei-a:

cantareira chora
falta d'água afora
chova lá agora



Dafran Macário
Parati
Outubro, 2014

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Cosciente


sabendo da rede
enfrente, nadando
contra a corrente











Dafran Macário
São Paulo
Outubro, 2014

sábado, 4 de outubro de 2014


enquanto
conseguires
manter vivo
deus interior
serás capaz
de melhorar
teu mundo



foto: Paula Macário


Dafran Macário
Barra do Turvo
Outubro 2014

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quanta Física


não se parou de prever
quanta partícula havia
em tal pia e por haver
esta sempre entropia



Dafran Macário
São Paulo
Setembro 2014


ando sempre assim, assado
dando adeuses ao passado
querendo presente a mudança
música, água, sombra, dança









Dafran Macário
São Paulo
Setembro 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Bastante


vejo-te distraída
morder uma castanha
que apanhei entre as folhas da relva
numa incursão por
centenas de quilômetros
percorridos por dias e noites
famélicos e insones
ao ventre da floresta

sem perceber minha intenção de
tatuar em nossos corpos o teu-meu poema
com original substância
impregnada de sementes

gotejar teu corpo com orvalho
que repousou na pétala iridescente da flor
endêmica de um lago de águas negras
que por singular disposição de ângulos
único a refletir a imagem solitária
de nossas estrelas tangentes

juntar exótico néctar
derivado da mescla
de essências extraídas
de sagradas plantas

calidamente amalgamados
cobrir lentamente tua geografia
fazendo-os córregos
convergir ao teu âmago

misturar a teus humores minha saliva
produzindo poderoso elixir
capaz de cicatrizar os sulcos dolorosos
causados pelos ventos dos teus medos

inebriar-te os sentidos
com torrencial erupção
cauterizar os cistos
de impronunciados nãos

não suspeitando
que bastaria um sim no olhar
para libertar-me
da masmorra a qual me encerra
resgatar-me
do degredo a que me envias
por mera distração
estando somente atenta
ao rouco estralar da castanha partindo
o olhar dirigido ao nada
para me por em movimento



Dafran Macário
São Paulo
2009

sábado, 16 de agosto de 2014

Sábado


porque é sábado
como uma deliciosa feijoada
quando um mendigo
barbudo, sujo e maltrapilho
entra no restaurante cristão
nas mãos um saco com peixes
outro com legumes
dirige-se ao balcão
pergunta se podem
fazer o favor
de cozinha-los para ele
negam-se
vendo-o partir
perco a fome e engulo lágrimas


Dafran Macário
São Paulo
agosto 2014

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Agosto 14

a chuva trouxe o frio
a notícia um arrepio
mas o sangue em minhas veias
conservou sonhos e anseios

ver a minha fratria livre
de calhordas e 'deslizes'
ver que a natureza vive
com os seus filhos felizes

Dafran Macário
São Paulo
agosto 2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014


numa
nua
sexta
uma
intensa
lua
vaga
e
azuleja
negra
noite
densa



spot
foca
tudo
toca
teu
telefone
mudo
vira
dízima
periódica


Dafran Macário
São Paulo
agosto 2014


Imagem: http://natbg.com/wp-content/uploads/2016/06/sky-big-blue-clouds-nature-night-moon-skies-full-dual-monitor-background-1920x1080.jpg 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sentidos fins

créditos da foto: https://www.flickr.com/photos/54451265@N05/14280412911/lightbox/


amargo desabafo, uivo
sopro, peito obliterado
tétano, músculos fatigados
sentidos fins, estrangulados

arroubo solitário no desfeito
natimorto eco do desejo
porém, queixa mesmo
silêncio, não faço

pois, pudera, não há
como forçar compasso
tentar firmar esteios
sonhar feliz passo

quando desalinhos
despertam desatinos
carregam anseios
empilham torvelinhos



Dafran Macário
Boa Vista
março, 2010

sábado, 14 de junho de 2014

Miopia



enxergamo-nos mal
projeções, personagens, maus

enxergo-te imatura
cheia de segredos, artimanhas, melindres

enxergas-me imaturo
inseguro, indiferente, volúvel

vejo-te, assim, crua
crês, assim, assado

vês-me, assim, cru
sinto, assim, passado

ver-te queria, assim, nua
sem máscaras, truques, manhas

ver-me querias, assim, nu
segurodependente, dominado

sofremos, assim
miopia, em ver e querer

assim, o que não somos
o que não sabemos ser

Dafran Macário
São Paulo
Outubro, 2011

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Figurando sem rótulos

(metonímias, oxímoros
aliterações, zeugmas...
hipérboles, prosopopeias?)

ignorando
rótulos, regras, sigo
figurando





Dafran Macário
São Paulo
Junho, 2014

Mata Atlântica


noite na mata
atlântica, luminosa
e romântica







Dafran Macário
São Paulo
Junho, 2014

Inverno


















passo a passo
certos passados, demoram
a passar


Dafran Macário
São Paulo
Junho, 2014

Sem


sentido sinto
ter que me abster
de absinto







Dafran Macário
São Paulo
Junho 2014



quarta-feira, 23 de abril de 2014

Januarina
























 https://i.pinimg.com/236x/98/34/23/98342337dd0b5bdc577fa50cae1e7d7a--illustrators-painters.jpg


flor do sertão
fruto da roça
filha da chuva
semente no chão

Januarina

neta do rio
rosa e espinho
bisneta dos astros
pó no caminho

Januarina

da tez que cobre
das veias o pobre
da raça preceito
servidão, preconceito

Januarina

do instinto nascida
descartada, perdida
enredada num beco
na fuga do seco

Januarina

sombras e medo
do tronco, na noite
carrancas, segredo
prazer e açoite

Januarina

engenho da vida
desnuda, moída
essência de ser
destilada ao querer

Januarina

na boca, a sede
no abraço, o calor
nos braços, a rede
na língua, o amor

Dafran Macário
São Paulo
Abril, 2014

Jaguaruna




















mulher felina
morena fera

jeito de menina
sina de pantera

quanto mais mimada
mais atroz

quanto mais ferida
mais feroz

quanto mais magoada
mais algoz

porém a história
ao correr diz

quanto mais tirana
mais infeliz

quanto menos humana
mais contraditória
Dafran Macário
São Paulo
Abril, 2014

domingo, 20 de abril de 2014

Epitáfio para Gabriel García Márquez


então vá Gabriel
inventar sem papel
traquinar a granel
encantar lá no céu













Dafran Macário
São Paulo
abril 2014

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Antes do Anoitecer


















a vida trás e leva
a gente faz e não
por ou sem querer
acerta e erra

muito do que vivemos
sequer percebemos
acontecimentos que 
na luz compreendemos

o transcorrer da vida, como do dia
passa, assim, rapidamente
a luz, leve, intensifica
suavizando, novamente, no poente

não tema viver, intensamente
hoje, amanhã, será passado
um novo amanhecer
pode demorar

Dafran Macário
Macapá
2001

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Primavera


flores
          cimento
de almas
              leves






Dafran Macário
Brasília
Primavera, 2010

domingo, 23 de março de 2014

Alma-mor


amor, alma
que a maturidade
acalma












Dafran Macário
Araçoiaba da Serra
Março, 2014

domingo, 16 de março de 2014

Vento











 




você em minha vida
passou como vento
esquentou ao ser
esfriou ao ceder

teu vento quando vinha
acalanto, brisa, encanto
teu vento quando ia
lamento, rajada, desalento

teu vento bateu em mim
revirou minhas certezas
desarrumou minha desordem
empurrou-me para fora, enfim

o vento, agora meu
esfria dúvidas, aquece o tempo
meu vento quando vou
canto, sopro, movimento

Dafran Macário
São Paulo
Novembro 2008

sexta-feira, 14 de março de 2014

Vida
















caminhos
                muitos
                                  ventos
tantos mundos
                       sete mortes
                                         três alentos:
escolhas
              mudanças
                              crescimentos

Dafran Macário
São Paulo
Março 2014

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Torno


saí por ai
procurando o Brasil
e o achei, viu?

O Brasil é isso que vejo: terras de sol, praias, sertões, serras, chapadas, planícies, céus azuis, noites estreladas, cores vivas, tons de verde de matos diferentes, mato crescendo no lugar do mato derrubado, riqueza e pobreza de terras, pobreza e riqueza de gentes

Dafran Macário
São Paulo
Janeiro 2014

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014