morder uma castanha
que apanhei entre as folhas da relva
numa incursão por
centenas de quilômetros
percorridos por dias e noites
famélicos e insones
ao ventre da floresta
sem perceber minha intenção de
tatuar em nossos corpos o teu-meu poema
com original substância
impregnada de sementes
gotejar teu corpo com o orvalho
que repousou na pétala iridescente da flor
endêmica de um lago de águas negras
que por singular disposição de ângulos
único a refletir a imagem solitária
de nossas estrelas tangentes
juntar exótico néctar
derivado da mescla
de essências extraídas
de sagradas plantas
calidamente amalgamados
cobrir lentamente tua geografia
fazendo-os córregos
convergir ao teu âmago
misturar a teus humores minha saliva
produzindo poderoso elixir
capaz de cicatrizar os sulcos dolorosos
causados pelos ventos dos teus medos
inebriar-te os sentidos
com torrencial erupção
cauterizar os cistos
de impronunciados nãos
não suspeitando
que bastaria um sim no olhar
para libertar-me
da masmorra a qual me encerra
resgatar-me
do degredo a que me envias
por mera distração
estando somente atenta
ao rouco estralar da castanha partindo
o olhar dirigido ao nada
para me por em movimento
Dafran Macário
São Paulo
2009