segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Bastante


vejo-te distraída
morder uma castanha
que apanhei entre as folhas da relva
numa incursão por
centenas de quilômetros
percorridos por dias e noites
famélicos e insones
ao ventre da floresta

sem perceber minha intenção de
tatuar em nossos corpos o teu-meu poema
com original substância
impregnada de sementes

gotejar teu corpo com orvalho
que repousou na pétala iridescente da flor
endêmica de um lago de águas negras
que por singular disposição de ângulos
único a refletir a imagem solitária
de nossas estrelas tangentes

juntar exótico néctar
derivado da mescla
de essências extraídas
de sagradas plantas

calidamente amalgamados
cobrir lentamente tua geografia
fazendo-os córregos
convergir ao teu âmago

misturar a teus humores minha saliva
produzindo poderoso elixir
capaz de cicatrizar os sulcos dolorosos
causados pelos ventos dos teus medos

inebriar-te os sentidos
com torrencial erupção
cauterizar os cistos
de impronunciados nãos

não suspeitando
que bastaria um sim no olhar
para libertar-me
da masmorra a qual me encerra
resgatar-me
do degredo a que me envias
por mera distração
estando somente atenta
ao rouco estralar da castanha partindo
o olhar dirigido ao nada
para me por em movimento



Dafran Macário
São Paulo
2009

Um comentário:

  1. No silêncio da noite, a inspiração de um poeta, mergulha no coração dos seres sensíveis...Erudita e uma lindeza Dafran...Como todos sensíveis, única...

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